quinta-feira, 27 de maio de 2010

Sobre filhos de Gaia


Vinte e poucos anos
fumante compulsivo,
poeta frustrado

Amores mal acabados,

Covarde convicto.

Homem sem rumo,

Sentado na janela

tomando café

Esperando a vida passar.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Anjo


Das coisas que perdi pelo caminho
foste a única que tentei tudo para encontrar
És das lembranças a mais viva
meu melhor e meu pior...
A saudade maior,
som da letra que me torna flor.
Metade roubada de mim,
já não posso alcançar mesmo sabendo
exatamente onde se escondeu.
Sem teus braços não consigo descansar
não encontro mar pra navegar
e me afogo em versos
pra te fazer lembrar que sou tuas asas,
o som de você
Meu anjo inverso!

terça-feira, 18 de maio de 2010

O louco



Foi no jardim de um hospício que eu encontrei um jovem de face pálida e formosa, e cheia de espanto.
Sentei-me no banco ao seu lado e perguntei - lhe: “Por que está aqui?”.
E ele olhou-me, admirado, e disse: “É uma pergunta indiscreta; contudo vou responder-lhe. Meu pai queria fazer de mim uma reprodução de si próprio; o mesmo queria meu tio. Minha mãe queria fazer de mim a imagem do seu ilustre pai. Minha irmã considerava seu marido, marinheiro, como exemplo perfeito que eu deveria seguir. Meu irmão achava que eu tinha que ser como ele, um excelente atleta.
E meus professores também, o lente de filosofia, e o professor de música, e o de lógica, cada um queria que eu não fosse senão o reflexo de sua própria face.
Desta forma, vim para este lugar. Acho mais são aqui. Pelo menos, posso ser eu mesmo”
Depois, subitamente, virou-se para mim e perguntou: “Mas, diga-me, o senhor também foi trazido a este lugar pela educação e o bom conselho?”
E eu respondi: “Não, eu sou um visitante.”
E ele disse: “Ah, o senhor é um daqueles que moram no hospício do outro lado da muralha.”

Khalil Gibran

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Acordei com teu sorriso nos olhos


Hoje acordei com teu sorriso nos olhos

me invadiu aquela antiga vontade

de tudo e nada com você.

Sinto falta de quando nos perdíamos nos olhos um do outro

Lembra quando não precisávamos de palavras?

Bastava um único olhar e elaborávamos as mais mirabolantes idéias...

Ainda penso nas nossas conversas intermináveis

e o riso me vem de um modo incontido

acompanhado por lembranças dos nossos projetos para “dominar o mundo”!

Você sempre tentando me fazer ultrapassar a linha tênue da “moral e dos bons costumes”...

Meu querido sinto falta do teu cinismo doce!

Quantas vezes rimos juntos,

choramos muito também!

Tudo parecia mais simples quando tínhamos um ao outro

Espantávamos brincando aquilo que nos feria a pele e atormentava os pensamentos.

Teu ceticismo tornou meu mundo mais real

Minha fé te fez perceber que devemos esperar que o amanhã seja melhor

E assim nos completávamos perdidos nas melodias e letras do Raulzito!

De tudo fomos um pouco.

Apoiados um no outro entendemos que o amor pode ser incondicional

e o amigo parte de nós!

Espero-te chegar.

Até lá ouvirei canções inteiras

Pra quem perdeu o sono

é boa a saudade de quem foi mas pensa em voltar.

Preciso ouvir tuas verdades brutas seguidas de abraços confortáveis.

Ando um tanto perdido e teu carinho insensível

me ajuda a lembrar quem sou.

Hoje acordei com teu sorriso nos olhos

Pra quem perdeu o sono

só as lembranças felizes acalmam a saudade.

Tranquilizam os pensamentos.

Vem amigo, não demore muito

Sei que andamos distantes,

Mas tua presença me alegra os dias.

Torna tudo flor!


(Para um amigo querido)


"Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele... Guardei a minha no bolso.
E fui."

(Caio Fernando de Abreu)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Identidade



Quando nos reencontramos a saudade era tanta que não podia haver espaço para mais ninguém. Meu amigo, só havia eu e você!
O telefone tocava insistentemente e dentro de mim uma voz implorava para não atender ao chamado, mas, os outros esperavam mais de mim
Tinha tanto a dizer que outra vez preferi calar, e uma vez mais o encontro tornou-se vulgar.
No pouco que foi dito as palavras soaram perdidas, vazias... Soltas num universo banal.
Quis tanto te abraçar... a vontade de me perder nos teus cabelos era tamanha que consumiu minha identidade. Fiquei ali imóvel, me afogando nas águas profundas do teu olhar. Olhar que outrora sonhei ser meu e só... me fiz só!
Já não lembro exatamente quem eu era (ou o que era) antes de você aparecer...
Em meio a um turbilhão psicosentimental... imóvel, sozinha, sem identidade e com a pele talhada como que por espinhos me despedi.
Fugi da minha loucura esquecendo os dedos que queimavam junto com o último cigarro e fui buscar uma companhia que me teria até o amanhecer... a Lua!

"Ela é mais que um sorriso tímido de canto de boca, dos que você sabe que ela soube o que você quis dizer. Ela fala com o coração e sabe que o amor, não é qualquer um que consegue ter. Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive."

(Caio Fernando de Abreu)


quarta-feira, 5 de maio de 2010

O bloco parou


Em meio aquele mar de gente ela o viu chegar (a moça diz que jamais esquecerá aquele feriado). Conta que ao vê-lo não viu mais ninguém, mas ainda assim, não fez nenhum esforço para se aproximar e continuou... Tentou se concentrar nas suas conversas, seus amigos, seu trabalho. Afinal, ele apesar de ter lhe tirado de órbita era só mais um estranho como centenas de outros que passavam por ali em busca de alguma diversão... Era maio, mas era carnaval.
Eis que o destino dá o seu empurrãozinho e o moço se aproxima como quem não quer nada. Rosto sério, voz mansa, sorriso de menino... de início um papo meramente comercial.... ela não sabe dizer como o assunto se transformou em beijos mas relata que naquele instante soube que essa história lhe daria trabalho. Justo a moça que se graduava em fios e tramas tecidos pela “História” se deixou levar!
A jovem ainda brinca de o ter comprado com uma cerveja, ele nem sempre ri de piada tão imbecil! A verdade é que, mesmo quando tudo que o moço queria era comprar a tal cerveja, ela que nem sempre havia sido tão boba já estava enfeitiçada.
Indagada sobre aquela primeira conversa, a moça conta que não lembra nada do que foi dito antes de ter sido beijada de súbito, mas não esquece de ter achado graça do amigo que envergonhado saiu “a francesa”. Jura que naquele instante até o bloco que passava parou porque eles não viram mais nada...
O que ela não sabia é que o moço que lhe roubou o coração é inconstante como os ventos. Chegou suave como a brisa, tornou-se tempestade e vez ou outra, surge lhe assanhando os cabelos, trazendo um cheiro tão bom e único quanto o da terra quando acariciada pela chuva...
Ela que nem gostava de carnaval!




"Olha: foi bom demais te conhecer. Me deu uma fé, uma energia. Sei lá..."
(Caio Fernando de Abreu)