segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sobre o eterno retorno


Eis que você vem
navegando sua ciranda bela
Insana!
Oposto a legalidade...
Chega sem avisar
transformando invernos cinzentos
em doces e quentes primaveras.
Teu verso já não resiste
as madrugadas insólitas.
Tudo o que se foi
torna-se sombra.
E tu  que foste forte
Já não me rouba o ar
Perdeu a pose.
Afoga-se em metáforas tolas
Dissolve-se em ideais vazios.
Você
um ser prolixo
Aparece
Desaparece
Apenas uma folha seca
Presa ao turbilhão evolutivo
Morto por antecipação
Cedendo espaço a um outro ser.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pessoa


Como um vento na floresta.
Minha emoção não tem fim.
Nada sou, nada me resta.
Não sei quem sou para mim.
E como entre os arvoredos
Há grandes sons de folhagem,
Também agito segredos
No fundo da minha imagem.

E o grande ruído do vento
Que as folhas cobrem de som
Despe-me do pensamento :
Sou ninguém, temo ser bom.

Fenando Pessoa

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A cura

 
Acordou diferente. Não conseguia identificar o que a incomodava, mas sentia que lhe faltava alguma coisa. Olhou em volta para se certificar que tudo estava no devido lugar e estava.
Ainda era a mesma, o quarto era o mesmo. Era só ela e os seus fantasmas. Ah, os fantasmas! Andava tão ocupada que os havia deixado de lado e já lhe acompanhavam havia tanto tempo que se acostumou... Limitavam, atormentavam, calavam.
Por hora fazia planos, tecia projetos muitos jamais sairão da imaginação, mas isso não importa. Seus novos sonhos eram abstratos e não comportavam devaneios passados.
Estava só! Os fantasmas deixaram a casa... Sorriu, fechou os olhos, abraçou o travesseiro e outra vez adormeceu sentindo o gosto de uma solidão agora doce.
Já não havia espaço para excesso de amor.

sábado, 20 de novembro de 2010

Leminskando

                                                                                                                         


                                                                                                                                  (Paulo Leminski)

domingo, 14 de novembro de 2010

Indizível


Ai de mim!
Vez em quando
A sonhar com o teu calor
Ai de mim!
Teatro involuntário
 A esconder vestígios
invisíveis

No balanço dos dias


Chamou
eu nem pensei em dizer não
Tolice
Insensatez
Sempre seria
Ainda é
Sempre fui
Sempre vou
Cortando caminho pelo mato
Dobrando páginas
Tentando escapar
Aprisionada
 
"Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..."

(Fernando Pessoa)


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sobre o vínculo

Olhávamos de um jeito fingido
disfarçando a atenção
que nos traia
num olhar terno
aniquilando mágoas antigas
Num segundo era desejo no outro vazio
Vez em quando ele era assim
vazio absoluto
Meu Deus!
Seu objetivo ainda era me enlouquecer
Talvez o louco fosse ele...
Eu amava aquela loucura.
Disse-me adeus, mas no tom da sua voz
sentia que queria ficar
Pelo menos aquela noite gostaria de ter ficado
Ah, e como era doce quando ele ficava...
Eu agora era frieza falsa
dessas que se  perdem ao primeiro sinal de calor
Sua voz fogo me queimava a pele
incendiava tudo ao redor
Mas a tempestade veio
e ele foi embora
outra vez