sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sobre lembranças de invernos passados


O cheiro do inverno traz de volta um vazio deixado por um tempo que incomodou e demorou de passar. Talvez porque houvesse uma idéia fixa, doentia baseada num sentimento obsessivo que não te deixa enxergar o que o outro é de verdade. Aquela coisa que te torna cego, limita os teus sonhos e te faz perseguir um rumo que só existe num mundo perdido dentro da tua cabeça confusa.

Confesso que esse frio me traz de volta aqueles dias ruins que pra dizer a verdade nem foram tão ruins assim, mas estou deixando aquele jeito tolo de lado. Percebo agora que é preciso deixar de tremer ao ficar de frente com os velhos traumas do passado. É preciso seguir a trilha procurar abrigo para lutar contra as tempestades, juntar a lenha para o fogo que manda os ventos ruins embora e aguardar ansioso o nascer do sol assim como o próximo luar.

Entendi que cada vez que os pensamentos repousam sobre o passado devo rabiscar alguma coisa, desse modo ficam envergonhados de sua tolice e recolhem-se... Fosse ao início não haveria páginas suficientes para desenhar tantas palavras desperdiçados, tantas noites jogadas fora, tanto tempo perdido. Embora não faça diferença, penso cada vez menos nos dias passados suas horas cruéis já não me ferem a alma, até porque sou homem preguiçoso por natureza e a solidão já não me inspira versos tão belos.

Por hoje, paro por aqui. Tenho optado por recuperar as muitas horas de sono e paz que aquele inverno me roubou, pretendo não sonhar com os dias que não esqueci.



"Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva"

(Caio Fernando de Abreu)


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