domingo, 27 de março de 2011

Dia de chuva


Os ponteiros marcavam o fim de mais um dia de trabalho. Era junho, seus alunos estavam em clima de festa, mas a ideia de um mês inteiro de férias lhe causava vertigem. O que seria da sua vida? O que faria com tanto tempo ocioso? A tarde caia e a moça sob uma fina chuva reproduzia mecanicamente passos lentos em direção ao ponto de ônibus. Nunca havia desejado tanto perder o transporte que a levava diariamente para casa. Prendeu a respiração evitando pensar na coleção de ausências, na falta que sobrava e no ar pesado que haviam se instalado em sua casa, em sua vida. O dia havia acabado e ela já não sabia fazer planos, não tinha devaneios, não enxergava esperanças em um amanhã mais leve. Ficou um tempo sentada na calçada observando a lua cheia que lhe sorria e acalentava. Entrou, jogou a mochila em algum lugar próximo da porta, arrancou os tênis sujos de lama (a mesma lama que lhe soterrava o peito), recolheu e atirou na lixeira pedaços de fotografias espalhados pelo chão da casa, limpou as gavetas e os armários dos pertences de um estranho conhecido, entrou no banho, chorou, tomou um calmante, desligou o telefone, pois não queria ser incomodada nem mesmo por ela em seus devaneios mais sombrios. Adormeceu, pois sonhar era sua única opção de felicidade.

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