Os ponteiros marcavam o fim de mais um dia de trabalho. Era junho, seus alunos estavam em clima de festa, mas a ideia de um mês inteiro de férias lhe causava vertigem. O que seria da sua vida? O que faria com tanto tempo ocioso? A tarde caia e a moça sob uma fina chuva reproduzia mecanicamente passos lentos em direção ao ponto de ônibus. Nunca havia desejado tanto perder o transporte que a levava diariamente para casa. Prendeu a respiração evitando pensar na coleção de ausências, na falta que sobrava e no ar pesado que haviam se instalado em sua casa, em sua vida. O dia havia acabado e ela já não sabia fazer planos, não tinha devaneios, não enxergava esperanças em um amanhã mais leve. Ficou um tempo sentada na calçada observando a lua cheia que lhe sorria e acalentava. Entrou, jogou a mochila em algum lugar próximo da porta, arrancou os tênis sujos de lama (a mesma lama que lhe soterrava o peito), recolheu e atirou na lixeira pedaços de fotografias espalhados pelo chão da casa, limpou as gavetas e os armários dos pertences de um estranho conhecido, entrou no banho, chorou, tomou um calmante, desligou o telefone, pois não queria ser incomodada nem mesmo por ela em seus devaneios mais sombrios. Adormeceu, pois sonhar era sua única opção de felicidade.
Devaneios, devaneios...
ResponderExcluirEncantador, de um jeito melancólico.. Mas encantador.
ResponderExcluirlo-ve-ly.blogspot.com