quarta-feira, 16 de março de 2011

Sobre interrupções


"Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido." (Caio Fernando de Abreu)

Quando ainda havia amor e os fantasmas habitavam a casa o moço concordava com o Caio quando ele discursava sobre ser melhor “interromper o processo ao meio” para que o respeito e as lembranças boas pudessem sobreviver. O problema é que junto com as recordações e projetos que poderiam ter sido ele trazia no peito saudades e um apego que agora lhe corroíam por dentro. A sensação de que algo no outro ainda fazia parte da sua vida era intensa e insuportável e vê-la seguindo, vivendo, sonhando fazia com que ele se sentisse traído a cada vez que ouvia alguém citar o seu nome.
O moço aprendeu na raça que “o ódio tem melhor memória que o amor” e agora entende que ao menos para a sua vida teria sido melhor se o fim daquela história os tivesse transformado em estranhos que não se reconhecem em meio à multidão. Mas, ainda assim, amanhã ou na próxima vez em que se encontrarem ele vai enfiar as mãos nos bolsos para disfarçar a tremedeira do corpo e com um sorriso lhe desejará  um bom dia. Apertando os passos entrará na primeira porta que aparecer para não se precipitar num abraço que a incerteza da interrupção lhe oferece.

Um comentário:

  1. Sabe querida... uma coisa que eu aprendi com o Caio... ele tá sempre certo... se eu tivesse ouvido muito conselho dele o meu peito doeria menos toda noite... interrompi o processo... mas, ja foi tarde... tava feito o estrago....

    e lembra ... as vezes, desistir é o maior ato de coragem...

    passando pra te desejar otimo domingo

    bjos!

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