"E recebi aqui o sujeito do censo do IBGE.
Com seu palmtop, simpático, falante.
Ofereci café e me preparei para me abrir para ele.
Até meus segredos mais íntimos.
Esperei perguntas relevantes.
Tipo:
Minha religião
Meu colesterol
Meu time de preferência
Minha bebida preferida
Meus ideais
Meu hábito de leitura
Alimentação
Quantas vezes vou ao teatro e cinema
Se prefiro rock, axé, música eletrônica
Se leio jornais impressos
Se como gordura trans
Se a TV fica no quarto
Se uso banda larga
Se sou canhoto
Prefiro cheques ou cartões
Se compro produtor piratas
Se sou a favor do aborto, da união homossexual, da liberação das drogas
Nada disso.
Perguntou quanto ganho, o que me recusei a dizer. Quantos banheiros tenho em casa [pensei que ele estava precisando ir ao toalete]. E se alguém que morava comigo havia morrido ou se mudado de país. E foi embora.
Nem perguntou o nome do meu gato!
Não entendi nada.
Depois caiu a ficha: claro, o IBGE está querendo saber dos mortos e exilados, para controlar o bolsa família, a Previdência e outras ações sociais.
Deduragem.
Na cara dura.
Não?"
Marcelo Rubens Paiva em "Pequenas Neuroses Contemporâneas"
http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/page/2/
Nós sempre queremos fugir da realidade não?!
ResponderExcluirrs
;-)
ou da solidão!
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