terça-feira, 7 de setembro de 2010

Censo 2010




"E recebi aqui o sujeito do censo do IBGE.

Com seu palmtop, simpático, falante.

Ofereci café e me preparei para me abrir para ele.

Até meus segredos mais íntimos.

Esperei perguntas relevantes.

Tipo:

Minha religião

Meu colesterol

Meu time de preferência

Minha bebida preferida

Meus ideais

Meu hábito de leitura

Alimentação

Quantas vezes vou ao teatro e cinema

Se prefiro rock, axé, música eletrônica

Se leio jornais impressos

Se como gordura trans

Se a TV fica no quarto

Se uso banda larga

Se sou canhoto

Prefiro cheques ou cartões

Se compro produtor piratas

Se sou a favor do aborto, da união homossexual, da liberação das drogas

Nada disso.

Perguntou quanto ganho, o que me recusei a dizer. Quantos banheiros tenho em casa [pensei que ele estava precisando ir ao toalete]. E se alguém que morava comigo havia morrido ou se mudado de país. E foi embora.

Nem perguntou o nome do meu gato!

Não entendi nada.

Depois caiu a ficha: claro, o IBGE está querendo saber dos mortos e exilados, para controlar o bolsa família, a Previdência e outras ações sociais.

Deduragem.

Na cara dura.

Não?"

Marcelo Rubens Paiva em "Pequenas Neuroses Contemporâneas"


http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/page/2/

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